18.4.22

Praia, um verdadeiro experimento social

Por esses tempos tenho caminhado bastante na praia e nesse último feriado, fiquei observando alguns tipos que me pareceram bem comuns e que me parecem representar bem a nossa sociedade. Então resolvi iniciar esse compilado de grupos que identifiquei no meu microuniverso. 


PAIS-DE-GUARDA. Paramentados de chapéu, camisa de manga longa ou mesmo só aquelas camadas bem consistentes de protetor, fica na zona do agrião, com água pelas canelas, de olho atentos nos pequenos rebentos que se divertem entre uma e outra onda. 

Ceio eu que preferiam estar na sombra, tomando uma cerveja, mas a paternidade moderna (ou simplesmente as ordens da mãe) os compelem a estar lá, de olhos bem abertos na prole, semblante fechado e preocupados em não perder de vista os baixinhos, o que lhe causaria uma bela dor de cabeça.

Algumas vezes pode ser representados também pela figura materna, mas é na paterna que a coisa fica de fato caricata. 


MODELETES. Em sua maioria mulheres mas também já percebo também meninos e alguns gays mais desinibidos. Sempre em busca daquela tomada perfeita e inesquecível. Até se prepararem para a próxima. 

Nessa categoria uma coisa que não consigo deixar de achar engraçado é quando acham ruim e até reclamam quando, estando no meio da praia, entre seu guarda-sol e a água, naquela na faixa da orla mais abarrotada de gente, alguém passa bem naquele macrosegundo ideal para sua tomada perfeita... Mas vejo agora que perfeito mesmo é o timming da situação. É fato que às vezes fico ainda meio incomodado por atrapalhar as fotos alheias, certamente reflexo dos idos tempos do filme 35mm, mas tenho percebido que a efemeridade tem sido tão recorrente hoje em dia que nem mesmo eles se incomodam muito com isso.


BONECOS DE POSTO. Apesar de poderem ser vistos em diversos locais, na praia parece que se destacam ainda mais. Não sei se pelo barulho ou pelo frenesi (ou relaxamento) hipnótico de poder estar de frente com essa imensidão que é o mar, mas a quantidade de gente tentando chamar a atenção, infutiferamente, de seus pares a ponto de gesticular, acenar balançar e abanar os braços é comicamente grande, a ponto de ganharem uma categoria própria nesse álbum.


GOSTOSA(O). Apresar de raros, quando aparecem no habitat praiano, são facilmente identificados. Não apenas pelas formas exuberantes e atraentes mas especialmente pela sua incrível habilidade de se destacarem da horda de gordinhos, baixinhas, feinhos e normais que costumam popular as praias. As cidades. E até o mundo.

Um exemplo que pude testemunhar dessa destreza foi a gostosa, que caminhou lentamente em direção à água para tirar a areia que, marotamente, insistiu em se agarrar naquelas nádegas lisas, simétricas levemente morenas e bem torneadas que a gostosa carregava, orgulhosamente. Depois de alguns instantes de prática, desconfiei que por lá já não havia sequer um grão de areia e cheguei a me preocupar se sua bunda não iria ficar em carne viva, com tantas batidinha e lentas passada de mãos. 


OBSERVADORES. Confesso que não é uma categoria preponderante, mas acabei criando-a para ter algum tipo de espelho, afinal de alguma forma deveria ter que me encaixar... E qual não foi minha surpresa ao identificar mais um ou dois espécimes dessa pouco difundida variedade, na minha jornada de 90 minutos e pouco mais de 7000 metros.

Solitários por natureza, parecem encontrar na contemplação e julgamento da vida alheia seu pequeno cosmo. Alheios a qualquer tipo de fato ou realidade que cerca seus objetos, deliciam-se em se apegar a pequenos momentos e passagens para exercitarem livremente sua criatividade e assim liberarem por alguns instantes sua imaginação da chata realidade da qual são cativos. Exatamente como ocorre quando resolvem escrever algo, como um blog por exemplo.

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